quarta-feira, 20 de julho de 2016

Transgressividade #11: Nekromantik (1987)

Capa do filme.
Embora já tenha abordado o tema necrofilia no blog ao escrever sobre Necrophile Passion, volto aqui a traçar algumas linhas sobre o tema para falar um pouco deste filme que é um clássico indelével da cena underground do cinema.

Por mais que abordem a mesma temática, há uma diferença circunstancial entre Nekromantik e Necrophile Passion: a abordagem usada para retratar o enredo. Enquanto Necrophile Passion é galgado em reflexões existenciais em torno do protagonista, Nekromantik prima por uma visão mais poética dos seus protagonistas e do próprio (atroz) ato da necrofilia, com uma absurda profundidade psicológica.

Dirigido pelo alemão Jörg Buttgereit, o filme gira em torno de Robert Schmadtke (Daktari Lorenz) e sua namorada, Betty (Beatrice Manowski). Robert trabalha na empresa Joe Streetcleaning, que tem como função a remoção de cadáveres em locais públicos. Logo no início, podemos ver Robert voltando para casa após fazer a "limpeza" de um local com alguns órgãos dos corpos que encontrou, agregando tais partes à sua coleção (visivelmente recheada, com muitos potes de vidro cheios de formol para que os órgãos se conservem).

O filme transcorre, com o fator caótico da trama progredindo de forma substancial. Até que, eis que - um dia - Robert encontra um cadáver em decomposição em um pântano lamacento e dá um jeito de levá-lo para casa. Agraciados com a presença de tal exuberante figura, Robert e sua namorada estrelam uma (romântica?) cena de sexo, simulando um ménage à trois entre eles e o cadáver. A sequência de imagens são compostas de situações aterradoras, com um toque peculiar de beleza fornecido pela trilha-sonora.
Dando uma chupada gostosa no globo ocular do cadáver.
Após isso, ele continua a ir trabalhar, deixando sua amada com o 'presunto'. Contudo, nem tudo são flores e, de tanto Robert chegar atrasado ao trabalho, seu chefe se enfurece e o demite. Frustrada pela perda do emprego do namorado e por não ter mais essa via fácil de aquisição de cadáveres que Robert lhe proporcionava, ela resolve abandoná-lo, levando o cadáver junto com ela.

Com a perda do emprego e da namorada, ele entra em uma depressão profunda, não conseguindo obter prazer em mais nada. Ele assassina o seu gato, prendendo-o em um saco de lixo e arremessando-o contra a parece e depois toma um banho de banheira com o sangue do animal escorrendo em cima dele; mas de nada adianta.

Ele vai ao cinema assistir um típico filme slasher repleto de misoginia, que o acomete a ir atrás de uma prostituta. Encontrando uma meretriz de beira de estrada, ele a leva para o cemitério, mas não consegue realizar o coito, dando uma bela broxada. A moça ri de sua cara e ele - enfurecido - a estrangula, conseguindo - após tê-la matado - manter seu membro rijo e transar com ela. Só que após finalizar o "serviço", ele adormece ali mesmo e acorda no outro dia com o som do coveiro, que tem sua cabeça arrancada por ele com um golpe de uma pá.

Desiludido, ele volta para casa com sua disfunção sexual perante a vida. Sem mais alternativas, ele decide dar cabo de sua vida ali mesmo, praticando um harakiri, perfurando sua barriga com uma faca enquanto ejacula esperma e sangue por seu pênis ereto, em uma intensa cena de êxtase absoluto.

Apesar das cenas extremamente grotescas (em especial a agoniante cena de esfolamento de um coelho, que surge no meio do longa como uma resposta à origem dos desvios psicológicos do personagem), da pobreza de recursos estéticos e cinematografia rasa, Nekromantik traz em suas entrelinhas uma proposta de debate com relação a solidão; a falta de empatia com o próximo; a desilusão amorosa; o convívio em sociedade e - claro - o estudo de fetiches sexuais excêntricos.
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Curiosidades:

1. O filme não contou com ninguém responsável pelos efeitos especiais, tendo sido filmadas as cenas com órgãos de animais.
2. O filme foi banido em diversos países por seu conteúdo amoral e transgressor.
3. A cena de esfolamento do coelho é real, tendo sido filmada em um criatório de animais.
4. Em 1991, 4 anos após o lançamento de Nekromantik, o filme ganhou uma sequência tão aterradora quanto o primeiro longa, dirigida pelo mesmo Jörg Buttgereit.

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