sexta-feira, 6 de março de 2015

Área Cult #2: Eraserhead (1977)

Capa de Eraserhead
David Lynch é um diretor complicado. Seus filmes - em sua maioria, complexos - trazem uma atmosfera profunda, criptografada. Tentar entender os enredos que Lynch apresenta chega a ser uma tarefa filosófica, uma tarefa feita especialmente para Sherlock's desvendarem. E, provavelmente, Eraserhead seja a principal representação dessa característica.

Porém, apesar da "codificação" dos seus filmes, Lynch é um verdadeiro artista. Tenho o costume de dizer - e essa é uma opinião exclusivamente minha - que, David Lynch é um dos diretores mais mal compreendidos da história do cinema.

O filme é um enigma. Segundo o próprio diretor, ninguém conseguiu entender o que ele queria passar com Eraserhead. Dotado de uma alta carga interpretativa, com poucos diálogos e um roteiro exprimido que ajuda em pouca coisa, é bem provável que a afirmação de Lynch esteja certa.

O enredo - ao contrário do filme - é bastante simples. Um reservado operário chamado Henry Spencer se vê obrigado a se casar com uma ex-namorada sua chamada Mary X, que se diz grávida dele. O bebê nasce uma "aberração", o que faz com que ela abandone-o para deixá-lo cuidar do bebê sozinho.

O enredo é tranquilo, perfeitamente digerível. Porém, a forma como Lynch o constrói não é tão simples assim. O filme é transcorrido com as complicações, problemas e ambições de Henry, que são - de certo modo - abstratas. 

Jogos psicológicos, metáforas tremendamente complexas, cenas praticamente indecifráveis... tudo isso num filme que consegue reunir um sentimento de nada e de tudo ao mesmo tempo. Eraserhead causa em seu telespectador uma impressão de indefinição, aquela sensação de: certo, mas o que isso quer dizer? O que se passa na cabeça dele?


Reunião de cenas: o Homem no Planeta, o bebê "aberração", a mulher do Palco e demais outros
personagens que deixam a cargo do telespectador a missão definir qual é a função deles no enredo.

Pode se dizer que nada é muito claro no filme, a cada minuto parece que ficamos mais confusos do que esclarecidos. Por isso, a compreensão do filme é muito pessoal. O interessante para um telespectador que nunca viu Eraserhead é justamente esse "mistério". Até mesmo o significado do título "Eraserhead (cabeça de borracha)" não é dos mais fáceis de se compreender.

Eu cometeria um crime se externasse minha interpretação de Eraserhead, pois a partir disso quem ler o que eu escrevo vai tender a ver o filme sob a minha ótica, e isso não é bacana.  Então, eu pararei aqui.

Eraserhead: o filme que consegue entrar na mente de quem assiste com uma facilidade absurda. Assista... aprecie!
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Curiosidades:

1. Demorou cerca de 5 anos pra ser gravado.
2. Certa vez Stanley Kubrick disse que Eraserhead era o seu filme favorito.
3. Ao ser perguntando sobre o filme, Lynch o definiu como "um sonho sobre coisas sombrias e inquietantes".
4. O orçamento do filme saiu do próprio bolso de Lynch, contando com uma pequena ajuda de seu amigo de infância: Jack Fisk.
5. O bebê foi feito a partir de um feto de cabra embalsamado. O feto foi enterrado em local desconhecido após as filmagens.
6. Lynch dormiu no quarto do personagem Henry durante os 5 anos de gravação.
7. Diz-se que o esmero de Lynch com o filme foi o fator principal do término de seu primeiro casamento.
8. Os grunhidos do bebê foram gravados pela própria filha de Lynch, Jennifer Chambers Lynch.

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